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2025-04-09

Descobri que gosto de arroz

A Microsoft anunciou que pretende descontinuar o suporte ao Windows 10 em outubro de 2025 e desde então eu vinha recebendo "propagandas" (que mais pareciam ameaças) frequentes para que eu atualizasse meu computador para o Windows 11 o quanto antes.

Confesso que tem bastante coisa que não gosto no Windows e gosto menos ainda no Windows 11, mas acabei pensando que, ok, tanto faz. Tô há tanto tempo usando Windows e reclamando sem nunca nem tentar mudar nada que só aceitei que iria conviver com um sistema operacional paia.

Tudo porque 1) eu não sabia mexer em nenhum outro sistema operacional (tirando macOS, porque trabalhei por 6 meses em um Mac quando trampava para a Pinterest) e 2) joguinhos (não uma desculpa tão válida porque eu nem sou tão gamer assim).

Tentei fazer o upgrade para o Windows 11. Deu ruim.

O pc reverteu pro Windows 10 e eu não perdi nada, ufa. Fui tentar descobrir porque deu errado. Acontece que o Windows 11 tem uns requisitos pra lá de escrotos pra rodar numa máquina. Ele precisa que o processador seja de no mínimo sei lá qual geração, mas é uma geração recente, e o Windows 11 não rodaria em processadores mais velhos do que algum ano relativamente recente aí (não lembro qual).

A questão é que meu pc é de 2020 e nenhuma peça dentro dele é realmente velha (ainda). Tudo funciona perfeitamente bem, e depois fui vendo que muita gente está putassa com a Microsoft por querer fazer todo mundo atualizar pro Windows 11 sendo que em grande parte dos computadores perfeitamente funcionais o sistema simplesmente não roda.

Em suma, muita gente que quiser continuar usando o Windows com alguma segurança a partir de outubro de 2025 vai precisar fazer uns upgrades de hardware aí e, bem... Eu não tenho esse dinheiro. Vocês têm?

Nesse meio tempo, eu ganhei um curso de Linux. Pra quê?, você deve estar se perguntando, considerando que eu sou psicóloga e não trabalho com TI, então manjar de Linux tá meio que bem fora do personagem. E a resposta é bem simples: porque sim. Porque tecnologia é um dos meus interesses especiais e eu sempre ouvi falar sobre Linux e como ele é superior em muitas coisas. Inclusive já houve um momento alguns anos atrás que eu passei cerca de 2 anos usando um notebook com dual boot de Windows e Linux porque o hardware do notebook era extremamente fraco e para rodar o Windows era um parto, enquanto o Linux rodava suave feito manteiga (essa expressão não funciona em português, né? oh well, azar)

Em suma, eu juntei memórias de uma experiência boa com a minha curiosidade natural e resolvi aprender essa joça de Linux. O curso que eu fiz era muito mais focado em servidores, porque obviamente era um curso voltado para o mercado de trabalho, mas grande parte do curso ensinava o basicão mesmo, como por exemplo: instalação do sistema, criação de usuário, manipulação de arquivos, criação de um servidor de arquivos local, scripts de infraestrutura, entre outros. Tudo isso através do terminal, como um verdadeiro hacker (só que de hacker não tem nada porque eu tava usando.. o meu próprio sistema... ??)

Resumindo: perdi meu medo de terminal e de Linux. Resolvi instalar um dual boot no meu pc pra pelo menos ter o Linux ali caso precisasse. Tentei instalar o Ubuntu e eu não sei o que caralios eu fiz que eu simplesmente deixei meu pc inutilizável. Eu fui seguindo um tutorial do Diolinux e simplesmente deu ruim, enquanto pra todo mundo que seguiu deu certo. Eu real não sei o que rolou, mas meu HD se descaralhou inteiro e meu SSD tava olhando pro outro lado como se não fosse com ele.

Fiquei triste, pensei em mandar pro conserto, pra algum técnico que sabe de fato o que está fazendo consertar a cagada e instalar... o Windows 10 de novo. Aquele Windows 10 que está com os dias contados, sabe? Resolvi que não ia passar por essa humilhação (eu sei que não é humilhação nenhuma, mas eu gosto de drama) e decidi simplesmente formatar tudo e tacar alguma distro Linux sozinha, sem essa ideia idiota de dual boot. E os jogos? Ah que se foda os jogos. Depois eu me viro com isso, pensei, já que existem sim gamers de linux.

Depois de pesquisar um pouco, escolhi usar a distro Pop!_OS. Minha escolha se deu porque: 1) o Diolinux fala bem e querendo ou não ele é referência e 2) eles tem uma iso específica para quem tem placa de vídeo da Nvidia, que geralmente é meio inimiga do Linux (por questão da própria Nvidia não investir em compatibilidade mesmo, pelo que entendi), então pensei que seria mais fácil instalar uma distro que já estivesse preparada para lidar com essa questão ao invés de instalar qualquer outra e ficar me matando pra tentar instalar algum driver.

Deu super certo.

Este é meu pc rodando o Pop!_OS, depois de algumas customizações. Aproveitando que estava usando uma distro Linux com o desktop Gnome*, fui olhando maneiras de customizar no Gnome-Look. Instalei alguns negócios para emperiquitar meu desktop e ficou essa coisinha mó fofa aí em cima. A maior parte das customizações foram feitas só baixando arquivos do Gnome-Look, colocando na pasta certa do sistema e depois selecionando o tema desejado pelo Gnome Tweaks.

Fiquei feliz com o que vi, mas senti que ainda faltava alguma coisa. Sei bem que não sou usuária avançada de Linux e tudo que faço na área de tecnologia é puramente por hobby, mas senti que queria mais. Afinal de contas, sempre me venderam a ideia de que o Linux é bacana pela questão da customização, então resolvi ir atrás de mais informações. Foi aí que conheci os tilings window managers, que são softwares que criam uma maneira completamente diferente de você utilizar seu desktop, baseada principalmente em teclado (ao invés de mouse) e permitindo que você abra várias janelas simultaneamente que vão automaticamente se ajustando na tela como um mosaico. Não sei se essa explicação ficou clara, mas aqui vai um exemplo de um desktop com um dos mais famosos tiling window managers, o i3wm:

Assustador, não? Na realidade, não. Entendo que pra gente que tá acostumado com o Windows e essa coisa de usar as janelas em tela cheia ou ficar arrastando janelinha pra cá e pra lá (conhecido como floating window), esse negócio de janela em mosaico é meio esquisito mesmo. E esse exemplo também não é dos melhores, pois obviamente só tem coisa de desenvolver aberta. Mas é possível usar esses tiling window managers para criar desktops lindos, como os que a gente vê no r/unixporn, navegar na internet e fazer tudo que dá pra fazer num computador (contanto que você não faça questão de usar tudo em tela cheia).

Na hora de escolher qual tiling window manager eu ia usar, fui pesquisando pelos que tinham uma boa compatibilidade com a distro que estou usando e acabei dando de cara com o Qtile, que além de casar bem com o Pop!_OS, também é configurado em Python, que eu coincidentemente aprendi no último mês. Assim, de graça mesmo. Eu tava fazendo nada, tropecei e aprendi Python. Acontece, é a vida.

Fiz a instalação do Qtile, me acostumei a usar o teclado para controlar 90% do meu workflow no desktop e configurei ele bem bonitinho. O resultado é o seguinte (clique na imagem para ver em tamanho original):

Eu quebrei o código algumas vezes enquanto fazia essa obra de arte, mas no fim deu tudo certo e estou bem orgulhosinha! Essa barra no topo foi inteira feita no código (com a ajuda de bibliotecas, claro, não programei nada do 0) e, sinceramente? Eu tô apaixonada.

Se alguém quer saber como fica quando eu tô usando várias janelas ao mesmo tempo, vejam aqui um print de agorinha mesmo!

Claro que ele não tá tão bem configurado como os trabalhos da galerinha no r/unixporn, mas eu tô bem orgulhosa do que eu fiz! E, até o momento, não me arrependi nem um pouquinho de ter migrado para o Linux. Tô amando tanto a experiência que inclusive migrei para o Linux no meu notebook de trabalho, instalando nele a distro Fedora, que tem suas particularidades também, mas estou gostando bastante!

E os jogos, você se pergunta. Eu disse que ia pensar sobre isso depois, mas na realidade pensei nisso faz tempo e descobri que: tudo que eu jogo roda no meu pc com Pop!_OS sem problemas. Graças a inovações como o Proton da Steam e um aplicativo chamado Bottles, que utiliza um negócio chamado Wine para rodar aplicativos nativos do Windows no Linux, não cheguei a encontrar nenhum problema. Às vezes pode ter jogo que não roda, mas no meu caso todos os que eu jogo rodam sem problemas ou, no máximo, precisam de uns ajustes bem pequenos para conseguir rodar, então no fim das contas todos os motivos que eu tinha para continuar no Windows foram de arrasta.

Se você, assim como eu, tá de saco cheio das palhaçadas da Microsoft, recomendo dar uma pesquisada sobre Linux, as distros disponíveis, e ir amadurecendo a ideia de migrar. Dependendo do uso que você faz do computador, sendo bem sincera, o Windows não faz falta nenhuma. Além disso, maior parte das distros são inteiramente gratuitas, você consegue instalar em computadores mais velhinhos sem precisar fazer nenhum upgrade de hardware e mesmo assim, se você escolher a distro certa, vai rodar lisinho. Recomendo este vídeo caso você tenha algumas dúvidas mais gerais. (Inclusive recomendo muito esse canal se você gosta de tecnologia e é anticapitalista engual eu, heheh)

Bye bye, Windows. Olá, Linux.

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E o arroz? O que tem a ver com o post?

O nome desse processo de ficar fazendo alterações estéticas no Linux é ricing. É isso. Esse é o arroz. :)

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P.S.: Adicionei as configurações do meu Qtile em um repositório do github, caso alguém tenha interesse. Vale ressaltar que pra funcionar, precisa baixar também o qtile-extras!

* Longa história mas, basicamente, o Linux possui diversas interfaces gráficas diferentes, chamadas desktop environment. Algumas das mais famosas são Gnome, KDE, Cinammon e XFCE. Você pode escolher a que você mais gosta e instalar na sua máquina de forma meio independente da distro que você usa, mas pra isso geralmente você tem que manjar bastante de Linux para não quebrar nada no sistema. Em geral, se você quiser não ter muita dor de cabeça, apenas se acostume com o desktop environment que veio com a sua distro. Sim, eu sou masoquista. 

3 comentários

  1. O meu notebook faz pouco que atualizou (semana passada) e não entendo realmente de nada de sistema mas se começar a remar só com linux mesmo, porque dinheiro pra investir não tenho. Aí talvez eu peça ajuda na instalação e faça cursinho pro resto hahaha. Veremos!!! AH, amei teu template!!! Tá lindo lindo lindo!!! (e segui no bsky)

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  2. Eu estou evitando atualizar pro windows 11 faz meses!!! espero um dia deixar de ser refém da microsoft. Gostei de ler sua experiência migrando pra outro sistema, eu não entendo suficiente do assunto pq tecnologia parece meio intimidante de começar a entender as vezes (?) porém vou salvar o vídeo que vc recomendou no final para assistir em outro momento!

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  3. que post maravilhoso! também gosto dessas coisas tecnológicas, então foi o puro suco do entretenimento ler sobre sua jornada. que bom que no final deu tudo certo (com seu pc e com seus joguinhos, principalmente - que, inclusive, fiquei curiosa pra saber quais você joga). o meu notebook é da mesma época que o seu computador, 2019/2020, mas ele conseguiu aguentar o windows 11. uso o sistema do windows a minha vida toda e nunca tive grandes problemas com ele, então nunca pensei em trocar ele por outro. o linux sempre me deu uma impressão de sistema arcaico, sabe? não sabia que ele era tão moderno e personalizável. com essa atualização do windows em outubro, talvez seja interessante eu pesquisar mais a fundo sobre o linux.

    abraços, nanaview

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