¿Será que a otro ahora le cuentas tu día?

26 de mar. de 2025

Estou viva, mas não estou bem.

Desde o último post, naquele tom desesperado, aconteceu muita coisa—algumas boas, outras péssimas. Não tive energia pra tentar voltar aqui falar algo. Pra falar a verdade, continuo sem energia.

Resolvi tirar o mês de março de férias antes que eu surtasse por causa daquele processo de burnout que estava desenvolvendo que comentei aqui em janeiro. Queria descansar, mas a realidade é que o mês de março foi tão agitado que eu não descansei quase nada. Mas ter tirado as férias não foi de todo ruim porque ele certamente seria mais desastroso ainda caso eu estivesse trabalhando normalmente.

Iniciei março me recuperando de seja lá o que me pegou no final de fevereiro que tirou minha capacidade de respirar. Não duvido que tenha sido covid, mas nenhum teste foi feito para ter certeza. Só tomei um monte de remédio e corticóide pra me recuperar da asma, mesmo.

Pouco antes de ficar doente, eu tinha ido para São Paulo, acompanhar meu namorado em um rolê no qual ele ia tocar. Foi a primeira vez que fui pra SP e não fiz o roteiro que sempre faço, que é ir na Liberdade e na Galeria do Rock, e depois ir pro show que me fez ir até lá pra começo de conversa. Talvez por isso também eu tenha gostado mais. Ficamos em um hotel na Vila Madalena, que foi uma experiência meio ruim pra falar bem a verdade, mas o bairro em si é uma delícia.

Como foram duas bandas no carro, não teve espaço pra eu ir junto, então fui de ônibus mesmo. Cheguei lá algumas horas antes do meu namorado, aproveitei pra dar uma voltinha no bairro, comprar comida para o café da manhã (porque no hotel não tinha) e parei pra almoçar em um lugar muito gostoso e aconchegante chamado No Ninho Comida Caseira. Por ser Vila Madalena, achei que o preço seria uma facada, mas sinceramente aqui em Curitiba teria custado a mesma coisa, se não mais. Pedi um combo que vinha uma refeição e de sobremesa uma rodela de abacaxi com mel e raspas de limão. Estava ótimo.

O rolê em si foi ótimo também. Foi o melhor show da banda do meu namorado, na minha opinião. O público era bacana e a casa de show muito melhor equipada do que as de Curitiba. Só o mosh que acabou me deixando com um baita hematoma na coxa, porque eu fiquei espremida em um canto do lado da parede para não participar e ainda assim o impacto acabou me fazendo bater com tudo na parede, onde tinha um cano bem na altura da coxa, risos. Doeu bastante na hora, mas nada insuportável.

Já em março, começamos com o carnaval em Laguna e meu aniversário. Não tinha ideia do que fazer para comemorar meus 30 anos, queria que fosse algo especial porque nunca nem imaginei que chegaria viva nessa idade, então ir para Laguna me pareceu uma boa ideia. Por eu estar na TPM, também foi uma viagem estressante, na realidade, mas teve ótimos momentos. Levei meu namorado e uma amiga para que passassem esse tempinho comigo e sou muito grata a eles por terem ido.

Na segunda semana de março, foi aniversário do meu pai, que também queria uma comemoração diferente porque estava fazendo 60. Ele fez uma festa bem legal, chamou muitas pessoas queridas, foi bem gostoso a maior parte do tempo. Até que teve um momento em que eu tive um meltdown.

Agora que tenho o diagnóstico de autismo, eu consigo entender esse descontrole que eu tenho às vezes, quando as coisas estão sendo demais e eu não tô aguentando. Eu sempre achei que era uma questão de regulação emocional, que eu precisava trabalhar melhor nisso, mas não importa quantos anos de terapia eu tenha feito ou quantas técnicas eu tenha aprendido, continuava tendo esses episódios porque, bem, eles não estão necessariamente relacionados à regulação emocional em si, mas à sobrecarga mesmo.

Ter um episódio desses é algo horrível e eu não desejo pra ninguém. É uma sensação de desespero e de perda de controle total, e por mais que o episódio dure de alguns minutos até uma meia hora (nunca durou mais que isso, pra mim), eu demoro muito tempo pra me recuperar emocionalmente.

Meus meltdowns envolvem choro, gritos e autoagressão. Esse último ponto é importante porque pra quem vê de fora e não leva em conta o quanto eu estou me machucando, pode achar que é só uma birra que eu tô fazendo. Mas não. Essa autoagressão é diferente de automutilação porque a automutilação é muito mais intencional, mesmo que seja feita num impulso, enquanto essa autoagressão é uma perda de controle mesmo. Dessa vez foi tranquilo nesse último quesito, fiquei com as mãos doendo por alguns dias, mas já tive episódios muito piores—incluindo um em que quase quebrei meu pescoço ao ficar me debatendo na cama e ter caído com todo o meu peso em cima da minha cabeça.

Desde então tenho tentado me recuperar desse episódio, mas não vou mentir que tem sido difícil. Entender a natureza desses episódios e saber que eles não são uma falha de caráter minha e que são coisas que vão continuar acontecendo porque, no fim das contas, eu vou ser autista pelo resto da minha vida, é algo que tem me deixado muito mal, de verdade. Eu sei que existem acomodações e que eu posso aprender maneiras para tentar evitar esses episódios, mas a verdade é que a gente não pode controlar tudo e eventualmente pode acontecer de novo, mesmo eu tomando todo o cuidado do mundo.

A verdade é que eu ainda estou aceitando o fato de que eu sou uma pessoa com deficiência. Eu sempre me vi como, sei lá, dramática e preguiçosa? Desequilibrada, surtada, louca? Controladora, agressiva? E por mais que isso possa ser exatamente a maneira que outras pessoas me vêem, pelo menos agora eu sei que nada disso veio por uma falta de caráter minha, mas por uma deficiência que eu tenho. E, sim, eu posso trabalhar isso, posso fazer acomodações, mas eu continuo sendo uma pessoa com deficiência e sempre serei. Sempre terei limitações que outras pessoas simplesmente não têm.

Como eu disse, março acabou sendo um mês de altos e baixos e ainda não sei direito como me sentir em relação a isso. Talvez não haja nada para ser sentido, só aceito.

Agora em abril voltarei a trabalhar, embora, como tenha dito, não tenha descansado de fato. Mas as contas não param de chegar e eu não sou CLT, então a realidade é que eu preciso voltar e eu que lute. Ainda estou de olho em vagas, concursos, pra ver se pelo menos consigo algo mais estável do que a clínica autônoma, mas por enquanto continuamos com o que conseguimos.

Espero que estejam todes bem. Beijinhos.

2 comentários

  1. Ei! Entendo que março foi um mês cheio de altos e baixos para você, e fico feliz que tenha se permitido viver essas experiências, apesar dos desafios. O autoconhecimento, como o diagnóstico de autismo, é um grande passo para lidar com as dificuldades de forma mais consciente e gentil com si mesma, as vezes, a aceitação é a chave para entender que, mesmo com limitações, você pode seguir em frente da melhor maneira possível.

    Espero que, mesmo com as dificuldades, você continue buscando o autocuidado e a compreensão do que está passando, a vida pode ser bem imprevisível, mas sempre há espaço para se cuidar e crescer, mesmo que em passos pequenos. Lembre-se que a sua jornada é única e cada passo conta. Você está fazendo o que pode e isso é o mais importante.

    Kisses ~
    https://justmegabs.blogspot.com/

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  2. feliz aniversário (bem) atrasado!! acho muito legal quem viaja pra comemorar, eu sempre quis fazer esse evento como comemoração no meu, mas penso que organizar vai ser tão estressante que vou perder a vontade no meio do caminho. quem sabe eu uso os meus 25 de pretexto pra fazer algo diferente e acaba rolando.

    a gente tinha que falar mais sobre o processo pós diagnóstico né? é difícil antes de receber um, mas não fica tão mais fácil depois. quando recebi o meu de bipolaridade, me senti como vc. as oscilações de humor vão continuar acontecendo independente de eu fazer tratamento ou não, isso dá um desânimo danado. mas, se compreender mais ajuda bastante. ouvir as experiências de outras pessoas me ajudou mt também.

    espero que o mês de abril seja mais leve pra vc!

    abraços, nanaview

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