8 de jan. de 2025

Estou virando minha mãe (e isso é uma honra)

Eu sempre tive noção de que herdei muitos traços de personalidade e comportamentos da minha mãe, em especial aqueles que eu via como defeitos, como uma certa inflexibilidade diante de maneiras diferentes de fazer as coisas, uma teimosia absurda e a dificuldade de lidar com determinados imprevistos.

No entanto, foi só ano passado que, conversando com meu namorado, fui reparando que puxei, também, algumas características positivas, como a presença, o cuidado, a consideração pelas pessoas ao meu redor...

Talvez tanto eu quanto ela tenhamos um certo problema de people pleasing e, mesmo tentando me libertar disso, acredito que se eu flexibilizar esse comportamento ele pode se tornar mais uma qualidade do que um freio em minha vida.

De qualquer forma, tenho percebido que, aos poucos, estou me tornando ainda mais parecida com minha mãe. Ano passado adquiri o hábito da leitura, e desde a infância lembro de sempre ver minha mãe com um livro em mãos durante seus momentos de lazer.

Depois, tomando banho, percebi que precisava lixar meu pé, hábito que minha mãe sempre teve para evitar o surgimento de fissuras e o famigerado pé diabético. No meu caso, como não tenho diagnóstico de diabetes, seria mais porque a circulação nos meus pés é zoada mesmo e isso faz com que ele seja bem ressecadinho, o póbizinho. (fun fact uma das minhas frustrações na vida é não poder vender pack de pé porque, além de ressecado, meu pé não é muito feminino)

Por fim, também tenho aproveitado muito mais o meu tempo sóbria. Eu nunca fui uma pessoa de ter problemas com substâncias (tirando o álcool), mas já experimentei várias e cheguei a ter momentos em minha vida em que todo final de semana eu estava bebendo ou, no mínimo, fumando algo.

Contudo, depois de 5 meses inteiramente sóbria because of reasons, percebi que estar sóbria é bom demais. Eu ainda aprecio uma boa cervejinha vez ou outra, mas não gosto mais de ficar bêbada (no máximo levemente alegre), nem chapada.

Claro que, como boa TDAHta, substâncias estimulantes são minhas melhores amigas. No entanto, como faço uso terapêutico dessas substâncias (vulgo tomar remédio), não considero que elas me tiram da sobriedade.

Minha única ressalva é em relação a substâncias alucinógenas. Não que eu tenha uma vasta experiência com substâncias desse tipo, mas as poucas que tive me fizeram mais bem do que mal. Porém são substâncias que eu jamais usaria de forma regular, pois considero algo mais espiritual.

No fim do dia, ainda prefiro a minha sobriedade no cotidiano do que usar substâncias de forma recreativa com frequência. Minha mãe, quando mais jovem, costumava beber bastante (a fruta não cai longe do pé, né), mas depois parou e apreciava uma cervejinha ou um vinhozinho vez ou outra, e eu sinto que estou me tornando exatamente assim.

Parece que, no fim das contas, eu estar virando minha mãe não é algo tão ruim. Ainda tem muita coisa que admirava nela que ainda não consegui desenvolver—como a capacidade de organização, por exemplo—, mas acredito que com o tempo isso virá também.

Claro que ainda carrego os defeitos comigo, mas tenho os trabalhado em terapia e em nenhum momento acho que minha mãe deixa de ser uma pessoa admirável só pelos defeitos que ela apresentava. Inclusive, já falei sobre isso aqui.

Estou prestes a fazer 30 anos, estou virando minha mãe, e tudo isso poderia ser motivo de uma crise de identidade gigantesca, mas não. É motivo de alegria e comemoração. Porque virar minha mãe é uma honra.

(Espero que você esteja bem
e tenha orgulho de mim
onde quer que você esteja,
minha véia.
Te amo. )

2 comentários

  1. Se você está virando sua mãe, um belo dia eu me vi virando Voinha. Estou cada dia mais parecida com ela, pessoas que nunca conviveram com Voinha me adjetivam como eu adjetivava ela, também reproduzo gestos dela de uma forma assustadora, o humor tbm é o mesmo e cada dia que passa entendo mais as atitudes dela, até as que me irritaram na adolescência, eu não sabia de nada. Como você, também considero uma honra ser tal qual minha vó, Voinha sempre esteve um passo a frente de todos nós, nós é que não entendíamos ela, mas até hoje desfrutamos da sombra que o trabalho dela nos deu.

    Os paragrafo final do teu texto tá tão lindo que me comoveu e me fazer ir ouvir pela centésima vez a música nova do Bad Bunny: DeBÍ TiRAR MáS FOToS

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  2. Oi, Cassiel! ♥︎
    Que post bonito! É emocionante ver você se conectando com a sua mãe através de coisas que ela tinha e que você tem também.
    Espero que você esteja bem. Te mandando um abraço grande ♥︎
    Se cuida!
    Kisus

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