Eu sempre tive noção de que herdei muitos traços de personalidade e comportamentos da minha mãe, em especial aqueles que eu via como defeitos, como uma certa inflexibilidade diante de maneiras diferentes de fazer as coisas, uma teimosia absurda e a dificuldade de lidar com determinados imprevistos.
No entanto, foi só ano passado que, conversando com meu namorado, fui reparando que puxei, também, algumas características positivas, como a presença, o cuidado, a consideração pelas pessoas ao meu redor...
Talvez tanto eu quanto ela tenhamos um certo problema de people pleasing e, mesmo tentando me libertar disso, acredito que se eu flexibilizar esse comportamento ele pode se tornar mais uma qualidade do que um freio em minha vida.
De qualquer forma, tenho percebido que, aos poucos, estou me tornando ainda mais parecida com minha mãe. Ano passado adquiri o hábito da leitura, e desde a infância lembro de sempre ver minha mãe com um livro em mãos durante seus momentos de lazer.
Depois, tomando banho, percebi que precisava lixar meu pé, hábito que minha mãe sempre teve para evitar o surgimento de fissuras e o famigerado pé diabético. No meu caso, como não tenho diagnóstico de diabetes, seria mais porque a circulação nos meus pés é zoada mesmo e isso faz com que ele seja bem ressecadinho, o póbizinho. (fun fact uma das minhas frustrações na vida é não poder vender pack de pé porque, além de ressecado, meu pé não é muito feminino)
Por fim, também tenho aproveitado muito mais o meu tempo sóbria. Eu nunca fui uma pessoa de ter problemas com substâncias (tirando o álcool), mas já experimentei várias e cheguei a ter momentos em minha vida em que todo final de semana eu estava bebendo ou, no mínimo, fumando algo.
Contudo, depois de 5 meses inteiramente sóbria because of reasons, percebi que estar sóbria é bom demais. Eu ainda aprecio uma boa cervejinha vez ou outra, mas não gosto mais de ficar bêbada (no máximo levemente alegre), nem chapada.
Claro que, como boa TDAHta, substâncias estimulantes são minhas melhores amigas. No entanto, como faço uso terapêutico dessas substâncias (vulgo tomar remédio), não considero que elas me tiram da sobriedade.
Minha única ressalva é em relação a substâncias alucinógenas. Não que eu tenha uma vasta experiência com substâncias desse tipo, mas as poucas que tive me fizeram mais bem do que mal. Porém são substâncias que eu jamais usaria de forma regular, pois considero algo mais espiritual.
No fim do dia, ainda prefiro a minha sobriedade no cotidiano do que usar substâncias de forma recreativa com frequência. Minha mãe, quando mais jovem, costumava beber bastante (a fruta não cai longe do pé, né), mas depois parou e apreciava uma cervejinha ou um vinhozinho vez ou outra, e eu sinto que estou me tornando exatamente assim.
Parece que, no fim das contas, eu estar virando minha mãe não é algo tão ruim. Ainda tem muita coisa que admirava nela que ainda não consegui desenvolver—como a capacidade de organização, por exemplo—, mas acredito que com o tempo isso virá também.
Claro que ainda carrego os defeitos comigo, mas tenho os trabalhado em terapia e em nenhum momento acho que minha mãe deixa de ser uma pessoa admirável só pelos defeitos que ela apresentava. Inclusive, já falei sobre isso aqui.
Estou prestes a fazer 30 anos, estou virando minha mãe, e tudo isso poderia ser motivo de uma crise de identidade gigantesca, mas não. É motivo de alegria e comemoração. Porque virar minha mãe é uma honra.
(Espero que você esteja bem
e tenha orgulho de mim
onde quer que você esteja,
minha véia.
Te amo. )
Se você está virando sua mãe, um belo dia eu me vi virando Voinha. Estou cada dia mais parecida com ela, pessoas que nunca conviveram com Voinha me adjetivam como eu adjetivava ela, também reproduzo gestos dela de uma forma assustadora, o humor tbm é o mesmo e cada dia que passa entendo mais as atitudes dela, até as que me irritaram na adolescência, eu não sabia de nada. Como você, também considero uma honra ser tal qual minha vó, Voinha sempre esteve um passo a frente de todos nós, nós é que não entendíamos ela, mas até hoje desfrutamos da sombra que o trabalho dela nos deu.
ResponderExcluirOs paragrafo final do teu texto tá tão lindo que me comoveu e me fazer ir ouvir pela centésima vez a música nova do Bad Bunny: DeBÍ TiRAR MáS FOToS
Oi, Cassiel! ♥︎
ResponderExcluirQue post bonito! É emocionante ver você se conectando com a sua mãe através de coisas que ela tinha e que você tem também.
Espero que você esteja bem. Te mandando um abraço grande ♥︎
Se cuida!
Kisus
Eu adorei esse texto!!!
ResponderExcluirTempos atrás também percebi que sou muito parecida com a minha mãe em vários quesito e eu achei isso ótimo, afinal ela é a pessoa que eu mais amo no mundo. Que honra!
Como você disse, também acabamos herdando defeitos, mas o importante é seguir melhorando.
Lindo texto, fofo demais ♥
https://www.heyimwiththeband.com.br/
que texto sensível e lindo...! muito bonita a forma como você fala da sua mãe, tenho certeza que nutre um carinho imenso por ela.
ResponderExcluireu e minha mãe somos muito diferentes, sempre achei que minha irmã que tivesse puxado ela e eu o meu pai e ainda acredito nisso. nossa forma de pensar e encarar as coisas costuma divergir bastante e até nas conversas parece que ela se dá mais com a minha irmã. acho que já lido bem com isso... um dia estávamos conversando eu, ela e minha irmã sobre continuar morando aqui na nossa cidade e ela disse algo tipo "a bia não quer ficar aqui... ela é sonhadora igual eu" e eu ainda penso nisso de vez em quando... a gente nunca conhece uma pessoa totalmente, né?
Adorei seu texto e consegui me relacionar com ele porque frequentemente me dizem como sou parecida com minha mãe em alguns aspectos. Fico feliz que hoje você tenha uma relação mais saudável com as substâncias e o álcool. Feliz 2025, beijos! :)
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirQue belo texto. Também percebo em pequenas coisas que estou virando minha mãe - e ela virando minha avó em pequenas coisas tb.
Uma coisa que eu realmente queria herdar dos meus pais é o foco e a alta organização. Depois da pandemia parece que os meus não existem mais.
Feliz Ano Novo :*
até mais,
Canto Cultzíneo
Eu tinha esses exatos pensamentos de não querer parecer a minha mãe (muito menos o meu pai) pelos defeitos. Mas, com o tempo, convivendo com outras pessoas diferentes da gente, a gente acaba notando as semelhanças, tanto nos defeitos mas principalmente nas qualidades, e não acha tão ruim assim. Acredito que isso venha muito com a maturidade, quando somos mais jovens, queremos fazer tudo diferente dos nossos pais, isso inclui o comportamento. Mas, não tem jeito, a gente vira eles, eles viram os nossos avós e provavelmente os nossos filhos também vão se tornar a gente um dia. Que bom que vc entrou em paz com essa ideia.
ResponderExcluirAbraços, nanaview ⭐
Amei seu texto. E incrível quando chegamos na idade em quê apreciamos as semelhanças com nossas mães. Eu sempre me achei a filha menos parecida com minha mãe e nos últimos tempos tenho reconhecido traços dela em mim e e tão bons sensação de pertencimento, sabe?!
ResponderExcluirbeijos
https://www.dearlytay.com.br/
Ei tinha, e ainda tenho, esse medo de ficar igual a minha mãe, por conta dos defeitos dela, e hoje eu percebo que adquiri sim alguns dos defeitos e isso me assombra, mas também sei que adquiri seus pontos positivos e me pergunto: como será no futuro? E isso me anime.
ResponderExcluirBeijos.
https://justmegabs.blogspot.com/
Mulher, eu comento seus posts mentalmente e isso está se tornando um problema real oficial.
ResponderExcluirFiquei pensando, com base em coisas que vc já me contou ou disse no blog, no quanto talvez a gente tenha vivido processos parecidos com o luto - de se reconectar com os bons momentos e lembranças, e poder olhar com carinho nas coisas que aprendemos e herdamos dos nossos pais. Fico genuinamente feliz de saber que você está nesse momento, e espero que ele siga te conectando com sua mãe por muito tempo <3
Beijinhos! :*
Obs: mulher, tu me perguntou sobre a questão do meu trabalho, eu te mandei o que rolou no insta! Hahaha