E ele veio.

tw: ideação suicida

Queria dizer que ao menos ele demorou a chegar, mas não demorou. Ele chegou bem devagarinho, sim, mas já se faz presente há alguns meses, e agora a situação tem ficado insustentável. Estou falando do infame burnout, que poderia ser uma resposta ao estilo de vida estressante e de produtividade constante que levamos nas últimas décadas, mas, no meu caso, significa apenas que eu tentei ser mais "funcional" do que consigo ser.

2024 foi o ano em que descobri meu autismo (ou melhor, ele foi diagnosticado de fato, ao invés de ser apenas uma suspeita) e também foi o ano que mais consegui exercer minha profissão do coração: psicóloga. No entanto, percebo agora que essa coisa de ter horários diferentes todos os dias e precisar interagir diretamente com pessoas tem sido extremamente exaustivo. Eu não tenho uma agenda cheia, meu máximo de atendimentos por dia é 3 (mas geralmente é menos), e ainda assim eu não estou aguentando. Estou num nível que, infelizmente, tenho começado a cogitar quais as pontes mais prováveis de acabar com a minha vida na queda, ao invés de só me estatelar no chão e ficar toda quebrada.

Começo a acreditar que a psicologia clínica não é pra mim. Mas o que eu faço agora? O que eu faço com meu diploma? Com as dívidas da faculdade? Com os 600 reais de anuidade do CRP que deixaram meu bolso em janeiro? Será que existe alguma área da psicologia em que eu possa ser bem sucedida, mesmo sendo essa pessoa de bateria social extremamente baixa e propensa ao burnout com frequência? Será que eu tento ir para alguma outra área em que eu não tenha que lidar diretamente com pessoas? Lembro da época em que trabalhava em escritório e, no fim, era a mesma coisa. Todo dia, no caminho para casa de volta do trabalho, eu decidia que era isso, não aguentava mais, aquela noite eu deixaria este mundo.

Eu não sei o que fazer. Tenho contas a pagar, não quero deixar os pacientes com quem desenvolvi um bom rapport, não quero desistir da profissão que eu tanto amo, mas se eu continuar assim, sei que não vou durar mais um ano sem uma tentativa de suicídio. Eu realmente não sei o que fazer. Preciso voltar ao terreiro.

Estou virando minha mãe (e isso é uma honra)

Eu sempre tive noção de que herdei muitos traços de personalidade e comportamentos da minha mãe, em especial aqueles que eu via como defeitos, como uma certa inflexibilidade diante de maneiras diferentes de fazer as coisas, uma teimosia absurda e a dificuldade de lidar com determinados imprevistos.

No entanto, foi só ano passado que, conversando com meu namorado, fui reparando que puxei, também, algumas características positivas, como a presença, o cuidado, a consideração pelas pessoas ao meu redor...

Talvez tanto eu quanto ela tenhamos um certo problema de people pleasing e, mesmo tentando me libertar disso, acredito que se eu flexibilizar esse comportamento ele pode se tornar mais uma qualidade do que um freio em minha vida.

De qualquer forma, tenho percebido que, aos poucos, estou me tornando ainda mais parecida com minha mãe. Ano passado adquiri o hábito da leitura, e desde a infância lembro de sempre ver minha mãe com um livro em mãos durante seus momentos de lazer.

Depois, tomando banho, percebi que precisava lixar meu pé, hábito que minha mãe sempre teve para evitar o surgimento de fissuras e o famigerado pé diabético. No meu caso, como não tenho diagnóstico de diabetes, seria mais porque a circulação nos meus pés é zoada mesmo e isso faz com que ele seja bem ressecadinho, o póbizinho. (fun fact uma das minhas frustrações na vida é não poder vender pack de pé porque, além de ressecado, meu pé não é muito feminino)

Por fim, também tenho aproveitado muito mais o meu tempo sóbria. Eu nunca fui uma pessoa de ter problemas com substâncias (tirando o álcool), mas já experimentei várias e cheguei a ter momentos em minha vida em que todo final de semana eu estava bebendo ou, no mínimo, fumando algo.

Contudo, depois de 5 meses inteiramente sóbria because of reasons, percebi que estar sóbria é bom demais. Eu ainda aprecio uma boa cervejinha vez ou outra, mas não gosto mais de ficar bêbada (no máximo levemente alegre), nem chapada.

Claro que, como boa TDAHta, substâncias estimulantes são minhas melhores amigas. No entanto, como faço uso terapêutico dessas substâncias (vulgo tomar remédio), não considero que elas me tiram da sobriedade.

Minha única ressalva é em relação a substâncias alucinógenas. Não que eu tenha uma vasta experiência com substâncias desse tipo, mas as poucas que tive me fizeram mais bem do que mal. Porém são substâncias que eu jamais usaria de forma regular, pois considero algo mais espiritual.

No fim do dia, ainda prefiro a minha sobriedade no cotidiano do que usar substâncias de forma recreativa com frequência. Minha mãe, quando mais jovem, costumava beber bastante (a fruta não cai longe do pé, né), mas depois parou e apreciava uma cervejinha ou um vinhozinho vez ou outra, e eu sinto que estou me tornando exatamente assim.

Parece que, no fim das contas, eu estar virando minha mãe não é algo tão ruim. Ainda tem muita coisa que admirava nela que ainda não consegui desenvolver—como a capacidade de organização, por exemplo—, mas acredito que com o tempo isso virá também.

Claro que ainda carrego os defeitos comigo, mas tenho os trabalhado em terapia e em nenhum momento acho que minha mãe deixa de ser uma pessoa admirável só pelos defeitos que ela apresentava. Inclusive, já falei sobre isso aqui.

Estou prestes a fazer 30 anos, estou virando minha mãe, e tudo isso poderia ser motivo de uma crise de identidade gigantesca, mas não. É motivo de alegria e comemoração. Porque virar minha mãe é uma honra.

(Espero que você esteja bem
e tenha orgulho de mim
onde quer que você esteja,
minha véia.
Te amo. )

Coisinhas para antes dos 30

Meus 30 anos estão chegando sem dó e eu nunca fui muito de fazer listas de planos, mas lendo um post da Garota do 330, fiquei pensando: por que não fazer esse compromisso pelo menos uma vez na vida?

Já falei uns tempos atrás que minhas metas de vida no momento são adotar um gato frajolinha e aprender todos os molhos possíveis, mas pra ser sincera ainda não corri atrás de nenhuma delas. Então resolvi que se eu colocar um prazo para pelo menos algumas pequenas metas, posso começar a dar uns passos nas direções que desejo ir.

Contudo, o fato é que meus 30 anos estão logo ali. Não tenho muito tempo para realizar metas mirabolantes, então resolvi que vou focar em coisas mais palpáveis e que podem ser realizadas nesses meus últimos meses com 29.

Portanto, aqui vão algumas coisinhas que eu gostaria de fazer na minha vida antes de completar os famigerados 30:

1. Uma aula de pilates

Eu preciso muito começar a mexer o meu corpinho, mas receio que academia não seja pra mim. Ouvi falar muito bem de pilates e dizem que quanto antes começar, melhor. Também dizem que pode ser mais sofrido do que academia, mas o meu problema real com academia não é o sofrimento e sim a quantidade de gente que tá lá, suando junto. Numa aula de pilates, pelo menos, é menos gente, algo mais aconchegante (?). Então, antes dos 30, quero fazer pelo menos 1 aula de pilates pra ver se gosto e se decido continuar ou parto para a próxima.

2. Aprender 3 molhos

Como dito anteriormente, quero aprender a fazer vários molhos. Porém aqui estabeleci uma meta de apenas 3 porque, quando digo aprender, quero dizer que quero ser capaz de fazer o molho sem ficar olhando a receita o tempo todo. Então a ideia é que eu faça esses 3 molhos vezes o suficiente pra aprender de fato. Ainda não decidi quais serão os molhos escolhidos, mas vou me decidir com o tempo.

3. Visitar algum templo de uma religião que não conheço muito

Minha espiritualidade é uma questão muito importante para mim e que acabo negligenciando na maior parte do tempo. Não sei direito o porquê, mas suspeito que seja pura falta de disciplina mesmo, não que tenha algum segredo maior. Acontece que, apesar de eu amar a umbanda, não sinto que voltaria a frequentar um terreiro de forma assídua, porque não sei se minha cosmovisão atual ainda é compatível com a religião. Então, gostaria de entrar em contato com outras que desconheço. E, pasmem, aqui nesse item pode funcionar até visitar uma igreja católica porque, apesar de ser a religião default do brasileiro, é fato que eu nunca fui a uma missa (meu namorado até fica embasbacado com isso porque ele cresceu católico e acha absurdo que eu não pego as referências quando ele fala algo relacionado ao catolicismo). Porém vou tentar priorizar outras religiões que tem chamado minha atenção recentemente, que não são cristãs.

Meu aniversário de 30 anos teria essa carinha de aniversário de 13, sim!

Começando hoje, dia 3 de janeiro, tenho dois meses para concluir toda essa lista (que é minúscula, sei, mas eu sou uma criaturinha de poucas atividades, então tá de bom tamanho). Desejem-me sorte!